Após escrever o post sobre as diferenças entre o inglês britânico e americano, inúmeras pessoas enviaram email querendo saber por que o inglês britânico é mais fácil de entender. Confesso que já ouvi muitas pessoas dizendo isso por aí. Quando comecei a estudar inglês, eu também pensava assim. Mas, com o tempo, percebi que esse é o mito mais absurdo que existe dentro do ensino e aprendizado da língua inglesa. Ou seja, o inglês britânico pode não ser tão fácil assim de entender. Saiba mais lendo o restante desse post.
Antes de qualquer coisa é preciso entender o que é o inglês britânico. Para ser sincero eu não faço a menor ideia do que realmente seja esse inglês. Por quê? Bom, tenha em mente que a Inglaterra é apenas um dos países que compõe o Reino Unido. Dentro da própria Inglaterra há diferentes sotaques e variantes da língua inglesa. Essas diferenças são divididas em dois grandes grupos: Northern England (norte) e Southern England (sul). Mas, dentro desses dois grandes grupos há ainda subgrupos e cada um com características próprias. Ou seja, o que é mesmo o inglês britânico se dentro da Inglaterra encontramos diferenças!?
Um pouco mais para cima temos a Escócia que também possui um inglês próprio (sotaque, vocabulário, usos gramaticais, etc.). Não podemos esquecer a Irlanda do Norte e o País de Galês que também possuem uma língua inglesa própria deles. Todos esses países – Inglaterra, Escócia, Irlanda do Norte e País de Galês – formam o que chamamos de Reino Unido. Embora politicamente unidos, cada país tem cultura própria e quando falamos de cultura temos de entender que a língua se inclui no conjunto; ou seja, cada país terá um inglês com características regionais próprias.
Isso significa que a coisa é tão complexa que não sabemos exatamente o que é o tal inglês britânico. O que realmente sabemos é que as pessoas chamam de inglês britânico, o que os especialistas chamam de Received Pronunciation (abreviado para RP). E o que é essa tal de Received Pronunciation?
RP é uma das variantes da língua inglesa, comum dentro do Reino Unido, e tido como a variante de prestígio social e educacional. Ou seja, é a variante usada por pessoas das altas classes sociais e/ou com bom nível de educação escolar. É a variante usada pela rainha em seus discursos. É também a variante usada pela BBC (British Broadcasting Corporation). É a forma usada nas escolas (Eton e Harrow, por exemplo) e faculdades (Oxford e Cambridge, por exemplo). O serviço militar também o adota em suas incursões pelo mundo. Enfim, é um modo padrão da língua inglesa.
Uma das características marcantes da RP é que ela é “pura”. Isto é, quem a usa procura pronunciar as palavras de modo claro e utilizar um vocabulário que seja reconhecido por todos. As estruturas gramaticais são organizadas de acordo com o “padrão”. Trata-se, portanto, de um inglês mais “limpo” (pronunciado com calma e de modo padrão), menos complicado (o falante fala mais devagar), sem interferências regionais (gírias, expressões, pronúncia, etc.). É por conta dessas características que a RP é, sem dúvidas, mais fácil de entender do que qualquer outra forma. No entanto, ela é apenas uma forma da língua inglesa!
Para ficar mais claro esse assunto, vamos fazer um paralelo com a língua portuguesa. O menino da favela e o filho do camponês do interior do estado falam uma língua portuguesa própria deles (vocabulário, pronúncia, gramática, etc.). Essa é a língua portuguesa que eles usam com os amigos e familiares nas relações cotidianas. Ao entrarem na escola, eles passam a ter contato com a normal culta da língua portuguesa. Nesse momento, o professor de português deve mostrar a esses alunos que o português deles não é “errado” ou “feio”; mas, o fato é que nas relações sociais neutras e formais do dia a dia (trabalho, faculdade, reuniões de negócios, etc.) eles devem usar a norma culta da língua. Ou seja, eles então aprendem outra forma da língua sem que a deles seja menosprezada ou ridicularizada.
O que acontece no dito “inglês britânico” (leia-se RP) é justamente isso: cada pessoa pode falar o seu inglês regional; mas nas relações sociais neutras ou formais utilizam a Received Pronunciation. Isso demonstra mais educação, mais respeito com o interlocutor e evita ruídos na comunicação (más interpretações no que é dito).
Durante anos, a maioria dos materiais didáticos voltado para o inglês britânico tem utilizado o RP nas suas atividades de compreensão auditiva, leitura, escrita, pronúncia, etc. Trata-se do inglês considerado padrão entre os países que formam o Reino Unido e também os países por eles colonizados (Canadá, Austrália, Índia, etc.).
Como o RP é mais “limpo”, falado com calma, etc., as pessoas tem a sensação de que o inglês britânico é mais fácil de aprender e entender. Na verdade, é apenas essa variante que aparenta ser fácil. Mas, garanto a você que se você for para uma região da Inglaterra e começar a conviver com as pessoas, você terá a sensação de que inglês britânico não é tão fácil assim. Somente com o tempo você se acostumará com o modo como eles falam inglês. Enquanto isso o RP será a sua salvação e torça para que alguém o use ao falar com você; caso contrário, você terá de se virar nos trinta (ou muito mais tempo) para entender o que eles dizem.
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